Ela espera um olhar, um olhar que possa lhe trazer aquela injeção de animo que todos precisam nesses dias de Sol sem Sol, calor sem calor, frio sem frio e chuva sem chuva. É feriado, alguns parecem felizes, mas na maioria, ela apenas enxerga o vazio, esse vazio que a ataca com olhares, atos e palavras. Com o tempo, nasce uma energia má dentro dela, dentro de todos.
O sorriso acaba, a musica acaba. Aqueles que compartilham seu medo habitual, sentem essa "energia ruim" que ela emana, essas pessoas próximas, ainda tentam anima-la, em vão.
È dificíl porque essas "cebolas" que ela colhe, são as mesmas dos últimos dez anos. Ela corre, foge, pula aquele alto muro, cai na estrada e corre sem destino. Corre, corre, corre até atropeçar e cair, ali, ela fecha um pouco os olhos e inevitávelmente, entra no sono do cansaço. Mais tarde, ao acordar, retorna aos muros do calabouço novamente, esse calabouço que há tanto tempo a prende.
Então, desgastada pelos inumeros fracassos, ela perde a coragem. A coragem de encarar seus demônios, de escalar aquele muro, ou a coragem de correr, sozinha pela estrada escura. Pela primeira vez, ela se vê acorrentada para todo o sempre, abaixa a cabeça e concorda que é isso mesmo.
Com o tempo, os pulsos irão parar de doer, a visão irá se adequar ao escuro e o calabouço não será tão ruim assim. As lágrimas caem apenas pelo fato de ela estar só, pelo medo da solidão que cobre e destrói a humanidade. Lágrimas das cebolas que ela ainda terá que colher.